quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O avião e o planeta.

Sem dúvida, o avião é uma máquina. Esse instrumento nos permitiu descobrir a verdadeira fisionomia da terra. Na verdade, durante séculos, as estradas nos enganaram. Parecíamos aquela rainha que desejou conhecer os seus súditos e saber se eles gostavam do seu reinado. Os cortesãos para iludí-la, ergueram cenários felizes ao longo da estrada e pagaram a artistas para que dançassem ali. Fora daquele estreito caminho ela nem sequer entreviu nada, e não soube que pelos campos adentro seu nome era amaldiçoado pelos que morriam de fome. Assim, nós caminhávamos ao longo de estradas sinuosas. Elas evitam as terras estéreis, os rochedos, os areais; seguem as necessidades do homem e vão de uma fonte a outra fonte. Assim, enganados pelas curvas, que são indulgentes mentiras, perlongando, no curso de nossas viagens por essas estradas, embelezamos, durante muito tempo, a imagem de nossa prisão. Pensamos que esse planeta fosse úmido e suave. Mas nossa vida se aguçou e fizemos um progresso cruel. Com o avião aprendemos a linha reta. Logo que decolamos abandonamos essas estradas que se inclinam para os bebedouros, ou serpenteiam de cidade em cidade. Libertados, desde logo, das servidões queridas, libertados da necessidade das fontes, apontamos a proa para o alvo longíquo. Só então, do alto de nossas trajetórias retilíneas, descobrimos o embasamento essencial, o fundo de rocha, de areia, de sal em que, uma vez ou outra, como um pouco de musgo entre ruínas, a vida ousa florescer. Então somos transformados em físicos, em biologistas , examinando essas civilizações que enfeitam o fundo dos vales e às vezes, por milagre, se estendem como parques onde o clima as favorece. Então podemos julgar o homem por uma escala cósmica, observando-o através de nossas vigias como se fora através de instrumentos de estudo. Então, relemos a nossa história. Exupery em "Terra dos Homens"

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Duas décadas.

Agora são 23:30. Segundo meu calendario vital, daqui a 30 minutos, completo duas décadas de existência. Não sei porque, fazer aniversário me deixa meio depressiva. Por incrivel que pareça, calculo nesse dia, minhas conquistas sociais, pelo número de felicitações que recebo, que são poucas. Calculo agora, o peso das proximas duas décadas. É nesse periodo que a nossa existência deve, ou deveria atingir seu ápice. Eu tenho esses 20 anos pra adquirir estabilidade financeira, sucesso profissional e pessoal, além de estabilidade emocional. Se não encontrei a felicidade até agora, preciso procurá-la. São só 20 anos. Depois dos 40, só poderei desfrutar do que conseguir. Ou talvez enfrentar uma tremenda frustração. Depende só de mim e das minhas escolhas. Estou me sentindo cansada. Imagino quando eu estiver completando 50. Eu já tenho aquela sensação de brevidade da vida agora, imagino eu como me sentirei depois. As vezes acho que a nossa limitação como seres humanos, essa incerteza que nos cerca, mas que fingimos que não é nada, se agrava comigo, porque eu penso toda hora nisso. Embora o peso dos anos seja dificil de enfrentar, acho que vale a pena enfrentar o desafio de viver. Cada ano que passa, é um ano a menos, mas uma vitoria a mais. Feliz Aniversario!

Frustração...

...conheço bem a cara dela, o gosto dela, e a força dela. Frustação é consequência daquela força que as vezes nos domina e diz não faça, embora nosso coração queira fazer. Ela fica lá, falando baixinho, não vai, não vale a pena, é desgastante, a vida é uma só, não faça isso se tu não quer. Frustração é resultado de comodidade, a gente não faz, porque se a coisa é dificil, é melhor escolher o caminho mais facil e a profissão mais fácil. Mas e como será a relação com a nossa propria consciência lá na frente? como vou encarar o espelho, sabendo que eu poderia ter usado meu parêntese na existência de uma forma gratificante. Mesmo que o esforço te faça perder uns anos de vida, por cansaço mental, no fundo vale a pena. A unica coisa que vale mesmo, é nosso sentimento perante a gente mesmo e nossa realização como ser humano. A vida é de fato uma só, até que se prove o contrário, e o fim dela, espreita. "Já que a morte me tem suspenso sobre o abismo, por um fio, que leve de mim apenas, o casulo vazio".